Reprocessamento de endoscópios – II

A esterilização como um eficaz método de prevenção

Os Procedimentos Endoscópicos são métodos utilizados para diagnósticos precisos e terapêuticas invasivas em várias especialidades, incluindo a urologia, gastroenterologia, oncologia, ginecologia, pneumologia, entre outras. O risco de infecção em ambiente hospitalar é considerável, dependendo do tipo de procedimento endoscópico e principalmente da eficácia do reprocessamento. “As infecções associadas aos cuidados de saúde (IACS) incluem-se hoje entre as complicações mais frequentes de hospitalização. No início da década de noventa o Harvard Medical Practice Study constatou que, só uma IACS era a segunda mais importante das complicações adversas em doentes internados. As IACS apresentam muitas características que as tornam uma componente crítica de qualquer programa de segurança do doente.”. Desta forma, os endoscópios usados em hospitais e clínicas, podem ser fontes de infecção cruzada, quando o seu processo de reprocessamento não for efectivo

A partir da década de 80 a infecção hospitalar teve um aumento muito significativo, chamando a atenção da comunidade científica, que procurou validar e padronizar a utilização de agentes desinfetantes, antisséticos e esterilizantes.

Já na década de 90 começam a surgir as primeiras comissões de controlo de infecção hospitalar, que visam a sua atenção nos métodos de vigilância epidemiológica e tentativa de prevenção da infecção hospitalar. Em todo o ambiente hospitalar, a preocupação com o controlo de infecção passou a ser um ponto fulcral e constante.

Assim poderemos afirmar que o reprocessamento de DM reutilizáveis acarreta complexos factores que necessitam de considerar acima de tudo, a segurança do cliente. Para tal, a esterilização e os seus processos, deve ser entendida “como componente essencial na qualidade dos materiais utilizados na prestação de cuidados, com um forte impacte no controlo de infecção nosocomial e no custo do cliente tratado (…) ”

Actualmente, as precauções padrão são um conjunto de medidas amplamente difundidas nas unidades de saúde, que devem ser aplicadas pelos profissionais nos cuidados de rotina a todos os doentes com o objectivo de quebrar a cadeia de transmissão de infecção e proteger os profissionais de saúde.

Segundo o Plano Nacional de Controlo de Infecção, as precauções padrão “… constituem uma estratégia de primeira linha, para o controlo de infecções associadas à prestação de cuidados de saúde. São um conjunto de medidas que devem ser cumpridas sistematicamente, por todos os profissionais que prestam cuidados de saúde, a todos os doentes, independentemente de ser conhecido o seu estado infeccioso. São destinadas a todas as pessoas que tenham contacto com os doentes em todos os locais onde sejam prestados cuidados de saúde, seja qual for o diagnóstico ou a suspeita de diagnóstico”.

Considerando todos os doentes potenciais fontes de infecção, todos os acessórios utilizados nos procedimentos endoscópios devem ser reprocessados infectados por igual após cada intervenção endoscópica.

Desinfecção de alto nível ou esterilização?

 Os endoscópios são instrumentos sofisticados de utilização, sendo objeto de um design complexo, de difícil limpeza.

De acordo com a classificação de Spaulding, dispositivos médicos críticos que penetram o tecido estéril ou o sistema vascular devem ser esterilizados, enquanto os dispositivos semicríticos que entram em contacto com a pele ou membranas mucosas podem ser esterilizados ou desinfectados em alto nível.

Uma modificação recentemente proposta para o sistema de classificação Spaulding seria expandir a definição dos itens críticos incluindo dispositivos que penetram tecidos estéreis ou o sistema vascular secundariamente através de uma membrana mucosa (por exemplo, um broncoscópio permite examinar os brônquios através da boca ou do nariz).

Até à data, têm sido alvo de um processo de desinfecção de alto nível, em virtude da sua classificação de dispositivos semicríticos e pelo facto de não serem possíveis de esterilizar pelo método convencional a alta temperatura, por vapor saturado.

Reprocessar endoscópios por desinfeção de alto nível tem sido considerado um processo seguro. Contudo, considera-se a margem de segurança mínima. Tendo em conta a carga bacteriana normal, presente em dispositivos médicos, o método de desinfecção de alto nível apenas garante uma eliminação efectiva de cerca de 20% do total de carga microbiana, sendo que a restante carga microbiana será irreversivelmente inactivada pela desinfecção de alto nível, mas continuando contudo presente do dispositivo médico.

Idealmente desejável seria a inactivação da carga microbiana pela desinfeção, adjuvada pela eliminação dessa mesma carga, com um processo de esterilização.

Adoptar o processo de esterilização, para todos os endoscópios flexíveis, será em termos de segurança para o doente, o processo desejável. Isso pode ajudar a prevenir infecções de doentes submetidos a técnicas endoscópicas, pois a esterilização elimina todos os microrganismos e esporos de bactérias, que podem persistir mesmo após a desinfeção de alto nível. A modificação também abordará a questão de acessórios críticos de endoscópios que passam pelo endoscópio e podem ser expostos a agentes patogénicos residuais num endoscópio que não tenha sido esterilizado.

Razão pela qual, é importante considerar de for- ma global o reprocessamento de endoscópios, tal como acontece nos Serviços Centrais de Esterilização (SCE), e incluir a rastreabilidade total nas endoscopias realizadas em salas de operação ou em salas de exames especiais, assegurando deste modo o controlo sobre os processos.

São vários os factores que comprometem a segurança do reprocessamento do endoscópio, e logo a segurança do doente, como a zona onde se pro- cessa a desinfeção dos endoscópios, pesando pela qualificação e responsabilidades dos técnicos que procedem à descontaminação, cuidados com as precauções universais de higiene (como lavagem das mãos) e culimando nos aspectos relativos aos próprios equipamentos (7). Qualquer quebra nesta cadeia não só pode provocar a transmissão de agentes patogénicos, como também aumenta o risco de desvios de diagnósticos.

Os  protocolos irão definir, entre outros, os circuitos de utilização e de reprocessamento nas diversas fases de processo.

As Fases do Ciclo de Utilização e Reprocessamento

 O reprocessamento do endoscópio está inserido num ciclo de utilização e reprocessamento, tal como outro qualquer dispositivo médico. No entanto, o local do seu reprocessamento pode diferir entre o SCE e no do ponto de uso, o que reduz substancialmente o tempo de reprocessamento, disponibilizando o endoscópio para uso de forma mais célere.

Neste ciclo de utilização e reprocessamento de endoscópios, a sala de reprocessamento de endoscópios no ponto de uso deve possuir condições de segurança e eficácia, com acesso às tecnologias necessárias, para garantir o funcionamento correto da unidade da endoscopia, permitindo a boa execução de todos os processos.

Processo de lavagem e desinfeção manual

  • Permite realizar a lavagem e a desinfeção dos endoscópios. Rápido;
  • Fácil para o utilizador;
  • Económico (para a instituição e/ou medico).

Processo semiautomático (com lavagem prévia)

  • Permite uma desinfecção validada de forma rápida e Rápido (permite adequar o tempo do ciclo);
  • Seguro (disponibiliza o registo);
  • Versátil (realizados todos os processos); Económico (para a instituição e/ou médico).

Processo de desinfeção de alto nível (automático)

  • Permite reprocessar os endoscópios de forma e segura para o paciente e confortável para os
  • Processo totalmente automático validado;
  • Seguro (realiza o processo de lavagem e desinfecção de forma automática) Fácil (para o utilizador)
  • Cumprimento da Norma 15883 1-4
  • Universal (permite reprocessar todo o tipo de endoscópios).

Processo de esterilização (automático)

  • Permite reprocessar endoscópios considerados de risco elevado que carecem de uma esterilização:
  • Processo totalmente automático e rápido (carece de uma lavagem prévia); Sistema que permite uma esterilização do endoscópio;
  • Seguro (processo com menor risco); Fácil (para o utilizador);
  • Universal, permite reprocessar todo tipo de endoscópios.

CONCLUSÃO

 A área de reprocessamento deve ser concebida para uma execução consciente de cada passo de limpeza e desinfecção ou esterilização que minimize a potencial propagação de agentes patogénicos entre os  dispositivos e os pacientes.

Os responsáveis técnicos pelo reprocessamento de endoscópios devem seguir as recomendações baseadas em evidências para actualização das directrizes (boas práticas) afim de maximizarem a eficácia dos seus procedimentos no reprocessamento. Os técnicos devem seguir as instruções dos fabricantes (IFUs) de cada dispositivo médico para garantir a integridade do dispositivo.