Reprocessamento de endoscópios – I

A importância da desinfecção de endoscópios

Todos os microrganismos patogénicos e, ocasionalmente, aqueles que em condições normais não o são, podem produzir diversas infecções, se forem introduzidos de forma mecânica no interior do organismo, seja a realizar uma técnica cirúrgica, uma exploração invasiva ou simplesmente uma cura cirúrgica. Por outro lado, é muito importante ter em conta que as intervenções, explorações, curas, etc., se realizam cada vez mais em doentes com idades muito precoces ou muito avançadas, e por vezes com graves problemas associados. Estas infecções nosocomiais são um dos principais problemas com que nos deparamos actualmente a nível hospitalar, com graves repercussões, quer económicas, quer sociais.

Não deve esquecer-se que o material endoscópico é um bem comum, que tem um custo muito elevado, e que a sua má utilização ou tratamento inadequado encurtam a vida do mesmo.

Por esse motivo, a Pentax Medical está envolvi- da de forma activa na formação e no seguimento destes processos. Além disso, a Pentax Medical investe no I+D para modificar os seus produtos e facilitar a limpeza dos mesmos. Através de um rigoroso protocolo, certifica que, com a utilização adequada, os endoscópios serão absolutamente seguros e livres de infecções cruzadas.

A limpeza pode ser realizada de duas formas distintas

  1. Manual;
  2. Mecânica, com máquinas de lavar eléctricas ou por ultrassons.

A limpeza manual compreende quatro fases

 A.- Limpeza do instrumental, com o detergente seleccionado para tratar e dissolver a sujidade.

B.- Escovagem com uma escova de cerdas não metálicas (as cerdas metálicas podem danificar o aço) com a finalidade de libertar a sujidade.

C.- Enxaguamento com água desmineralizada (as águas muito duras podem produzir manchas no instrumental e, posteriormente, corrosão por picadas), sendo o enxaguamento realizado de forma minuciosa e com água abundante, para remover os restos orgânicos e o detergente. Não existe uma boa limpeza sem um enxaguamento perfeito, uma vez que qualquer resto de detergente actuará como barreira, impedindo a acção do agente esterilizante.

D.- Secagem, que se realizará imediatamente após o enxaguamento, para evitar a formação de manchas na superfície do instrumental que acabariam por produzir corrosão no mesmo. Uma secagem defeituosa, com a existência de gotas de água, pode conduzir a uma esterilização incorrecta, uma vez que as gotas de água podem actuar como barreira protectora sobre as bactérias.

Uma vez limpo o instrumental, procede-se à esterilização do mesmo, de forma a evitar o contágio com vírus da hepatite B, C, VIH, etc., que se poderia produzir através de picada por parte do pessoal que o manipula, ao colocá-lo nos contentores cirúrgicos.

Limpeza mecânica eléctrica (máquinas de lavar) 

As máquinas de lavar eléctricas possuem, geralmente, vários programas, sendo estes cinco os principais:

  • Pré-lavagem: programa útil para instrumental muito
  • Lavagem do instrumental: nesta fase, a temperatura do interior da câmara não deve ser superior a 45°C para evitar a coagulação das albuminas que permaneceriam coladas à superfície do material e que acabariam por o deteriorar
  • Enxaguamento: nesta fase, a temperatura deve oscilar entre 75°C e 90°C.
  • Desinfecção térmica: a 90°C durante 10 minutos para prevenir doenças profissionais na manipulação do instrumental.
  • Secagem do material.
  • Actualmente, a tendência é limpar o instrumental o máximo possível por este meio devido à sua rapidez e eficácia, para além de que o pessoal de enfermagem apenas manipula o instrumental

Escolha do detergente

 Dos múltiplos detergentes que existem no mercado, a escolha do mesmo faz-se com base no seu poder desincrustante, na facilidade de penetração até aos pontos mais inacessíveis, eliminando sangue, secreções, gordura, etc., que seja eficaz em águas duras, que não forme placas calcárias, que seja de enxaguamento fácil, que não seja corrosivo e que seja facilmente biodegradável.

O que é a desinfeção?

 A desinfecção consiste na destruição dos microrganismos patogénicos e de inúmeros saprófitos. Deve desinfectar-se todo o material que vai estar em contacto com mucosas ou pele não íntegra dos doentes. Segundo a FDA, os desinfetantes de alto nível são substâncias químicas capazes de eliminar em 15 a 30 minutos os germes patogénicos depositados sobre um material inerte, alterando esse material o mínimo possível. Esta destruição abrange toda a forma de vida vegetativa, bactérias, fungos, vírus, etc., menos as suas formas esporuladas (esporos), excepto se aplicados durante longos períodos de tempo (6 horas ou mais) em solução integral.

Dos diversos materiais utilizados como desinfetantes de alto nível, existem actualmente dois mais conhecidos e de eficácia comprovada.

O glutaraldeído a 2% e o glutaraldeído de fenolato. A desinfecção realiza-se por imersão do material em solução desinfetante, deixando a referida solução actuar durante 20 a 30 minutos, sendo o material depois depositado num recipiente com soro fisiológico ou envolto num pano estéril para a sua utilização.

O profissional de enfermagem verifica se o material está perfeitamente limpo, uma vez que a presença de restos orgânicos inactiva a solução, bem como se a imersão do material a desinfectar é feita correctamente, ou seja, que não existem zonas de material que não estejam em contacto com o líquido desinfetante e que este não está fora de prazo.

Uma falha no processo de limpeza e desinfeção pode acarretar consequências negativas na posterior esterilização do material de endoscopia, favorecendo a transmissão destas infecções. Daí a importância do cumprimento rigoroso de todas as fases do processo de limpeza e desinfeção por parte dos profissionais de enfermagem.

Esterilização

 A esterilização consiste na destruição de toda a forma de vida microbiana, incluindo esporos (os esporos são microrganismos mais resistentes ao calor, bem como a agentes químicos e radiações).

Não é possível demonstrar de forma eficaz o estado estéril de um material, quer porque os meios de que dispomos não são suficientes para demonstrar a presença de microrganismos vivos num objecto, deparando-nos com falsos negativos, quer porque o mesmo processo de verificação produziria uma contaminação involuntária, onde o material parece não estéril quando na realidade o está, deparando-nos com um falso positivo. A esterilidade de um objeto faz referência à probabilidade de que esse objeto não está contaminado. Isto significa que podemos encontrar um objeto não estéril entre um milhão de objectos submetidos a esterilização. Tal é praticamente impossível de demonstrar, pelo que, na prática, consideramos que um objeto apresenta um estado estéril se este tiver sido submetido aos diversos processos de esterilização e a equipa da central de esterilização tiver validado todos os controlos realizados no processo.

É muito importante ter sempre em conta e respeitar as recomendações relativas à esterilização do material indicadas pelo fabricante na etiqueta, bem como o cumprimento da norma CEE correspondente, eliminando todo o material de utilização única uma vez utilizado.

 

Autoria: Cortés Ridaura, L.-D.U.E. Supervisor da Central de Esterilização do Hospital Geral Universitário de Valência

Dr. Emilio de la Morena,. Chefe do Serviço de Endoscopia do Hospital da Zarzuela.