Como melhorar a eficácia de lavagem e minimizar o seu custo operacional?

Em 2014, em cada 100 doentes admitidos num serviço Hospitalar, aproximadamente 11 contraíram uma infecção que não tinham na altura da sua admissão.

A lavagem/desinfecção de dispositivos médicos tem uma função essencial para a melhoria desta situação, sendo a qualidade da lavagem um critério que é monitorizado, cuidadosamente, em Portugal.

No entanto, a degradação dos dispositivos médicos é um custo permanente com diversas causas, entre as quais, a qualidade dos detergentes utilizados e o próprio procedimento de descontaminação. Com um critério adequado de selecção e aquisição dos detergentes, os custos operacionais poderão, diminuir significativamente. Será, antes de mais, interessante considerar quais os critérios que devem conduzir à selecção do detergente.

Assim, deverão:

  • Ser eficazes na remoção de ma- téria orgânica e inorgânica;
  • Ser líquidos, de forma a permitir a sua máxima concentração e dosagem mínima, aumentando, assim, a rentabilidade económica do produto
  • Ser compatíveis com o instrumental, nomeadamente, devem ter abrasividade nula ou a mais baixa possível;
  • Ser compatíveis com os materiais das lavadoras, não sendo desejável hiperacidez nem hiperalcalinidade. Nestes, terão a vantagem adicional e necessária de dispensar neutralização ácida;
  • Ter baixa formação de espuma, de forma a diminuir o efeito de cavitação;
  • Incluir na sua composição agentes quelantes, diminuindo a formação de calcificações nos aparelhos;
  • Apresentar um intervalo de pH entre 7 e 11;
  • Ser de fácil enxaguamento;
  • Ser biodegradáveis;
  • Ser utilizados na maior gama de equipamentos de descontaminação possível.

Os critérios acima definidos levam, à selecção de um detergente enzimático, um detergente alcalino, um aditivo de lubrificação e secagem, bem como, eventualmente, de um agente/ aditivo descalcificante. A prática comum de utilização de agentes desinfetantes químicos na descontaminação está já obsoleta devido às características termorresistentes dos materiais correntes, nomeadamente, os que são utilizados em anestesia e o material de calçado (vulgo, socas).

Decorrendo também dos critérios acima, será igualmente importante implementar procedimentos de pré-tratamento dos dispositivos aquando do fim da sua utilização. A matéria orgânica sólida deverá ser removida e deve ser implementado um procedimento preventivo contra a secagem dos instrumentos, o aumento da carga microbiana e a corrosão. Existem no mercado, para este efeito, produtos em gel, liquido ou espuma, sendo o gel preferível devido ao seu elevado grau de distribuição e absorção ao instrumento, durante o período de contacto e fácil transporte.

O correto acondicionamento dos instrumentos no contentor de transporte é, também, um factor a não descuidar.

A melhoria de resultados levará, a curto ou médio prazo, todos os programas de lavagem a integrar esta estrutura de base, que deverá juntar as fases de lavagem enzimática e alcalina com entrada sequencial de detergentes.

À chegada destes dispositivos pré-tratados à unidade de reprocessamento, deverão ser inspeccionados e triados. Ocasionalmente, os dispositivos poderão requerer um passo de enxaguamento e pré- lavagem manual devido às suas características técnicas. Segue-se o programa de lavagem, cuja estrutura-base deverá ser constituída pela seguinte ordem:

  1. Humedecimento com água tépida, normalmente com período de contacto de 2 min (obrigatório).
  2. Lavagem com detergente enzimático, composta por injecção de detergente enzimático com temperatura de entrada de 45°C, subida a 50°C e tempo de contacto de Pretende-se com este passo, desincrustar e a hidrolisar proteínas e lipoproteínas aderidas antes que se verifique um “efeito de cozedura” indesejável antes de injectar o detergente alcalino
  3. Fase alcalina, sem nenhum enxaguamento intermédio, com injecção de detergente alcalino a uma temperatura inicial de 50°C, elevando-se até 55°C e com um tempo de contacto de 5 min. Este detergente não deverá necessitar de agente neutralizador (preferencialmente) e deverá ser compatível com metais macios e ter efeito A acção sequencial do detergente enzimático e alcalino tem um efeito de eliminação total da matéria orgânica, obtendo-se, assim, uma descontaminação a 100% com 0,00 ?g de matéria residual.
  4. Enxaguamento intermédio, com água tépida, para remoção dos resíduos enzimáticos e alcalinos.
  5. Desinfecção térmica, em conformidade com o padrão A0=3000 – o padrão de descontaminação de referência, com maior taxa de redução microbiana que a desinfecção química. A injecção de um lubrificante durante a subida de temperatura a 60°C adquire, aqui, especial importância. O lubrificante irá restabelecer a integridade da camada de óxido de crómio no aço (levando ao seu reforço), tornará os instrumentos mais macios, contribuirá para diminuir a tensão superficial da água (facilitando a secagem) e irá também proteger da corrosão durante a esterilização. Em muitos equipamentos manufacturados de última geração este procedimento já é padronizado e incluído, de base, na programação de fábrica do equipamento, como é o caso do padrão EN ISO 15883-1, A0=3000.

Concluindo, a melhoria de resultados (já comprovada) levará, a curto ou médio prazo, todos os programas de lavagem a integrar esta estrutura de base, que deverá juntar as fases de lavagem enzimática e alcalina com entrada sequencial de detergentes – apropriadamente escolhidos – e incluir a supressão da fase de enxaguamento intermédio entre a fase de lavagem e desinfecção térmica. Não obstante, a pressão exercida pelos jactos de água e a segurança destes programas são aspectos a considerar, dos quais também depende a eficiência da descontaminação. Desta forma, daqui a algum tempo, poderemos dizer que, uma máquina e um conjunto adequado de detergentes terão um conjunto de funções muito relevantes que vão muito além da função inicial a que se destinavam.

 

Autoria: Carlos Vieira Silva, Diretor Comercial DimorAsept – Higiene Hospitalar Lda